Muitas vezes, o que leva um
professor ou uma professora à sala de aula é uma curiosidade, uma inquietação,
uma vontade de ensinar, mas também de conhecer e de transformar. E é essencial
que seja assim.
Sem humildade, sem esperança na
transformação e sem encantamento pelo mundo e pelas pessoas que o habitam, não
há curiosidade. Sem curiosidade, por outro lado, não há educação.
E para essa reflexão, trazemos
dois textos. O primeiro foi retirado do livro Pedagogia da Autonomia, do
inspirador capítulo“Ensinar exige curiosidade”, do educador brasileiro Paulo
Freire. Já o segundo, traz um trecho do Dia do Curinga, de Jostein Gaarder, um
clássico da literatura infanto-juvenil.
Boa leitura!
***
Crea+ na Escola Estadual Daniel Verano 2012 |
Estimular
a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria pergunta, o que se pretende
com esta ou com aquela pergunta em lugar da passividade em face das explicações
discursivas do professor, espécies de respostas a perguntas que não foram
feitas. Isto não significa realmente que devamos reduzir a atividade docente em
nome da defesa da curiosidade necessária, a puro vai-e-vem de perguntas e
respostas, que burocraticamente se esterilizam. A dialogicidade não nega a
validade de momentos explicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala
do objeto. O fundamental é que o professor e alunos
saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa,
indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é
que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos.
Neste
sentido, o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu
pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma "cantiga de ninar".
Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e
vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas
incertezas.
Crea+ na Escola Estadual Daniel Verano 2012 |
Crea+ na Escola Estadual Daniel Verano 2012 |
Antes de
qualquer tentativa de discussão de técnica, de materiais, de métodos para uma
aula dinâmica assim, é preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache
"repousado" no saber de que a pedra
fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que me faz perguntar,
conhecer, atuar, mais perguntar, re-conhecer.
Boa
tarefa para um fim de semana seria propor a um grupo de alunos que registrasse,
cada um por si, as curiosidades mais marcantes por que foram tomados, em razão
de que, em qual situação emergente de noticiário da televisão, propaganda, de
videogame, de gesto de alguém, não importa. Que "tratamento" deu à curiosidade, se
facilmente foi superada ou se, pelo contrário, conduziu a outras curiosidades.
Se no processo curioso consultou fontes, dicionários, computadores, livros, se
fez perguntas a outros. Se a curiosidade enquanto desafio provocou algum
conhecimento provisório de algo, ou não. O que sentiu quando se percebeu
trabalhando sua mesma curiosidade.
(...)
o
exercício da curiosidade convoca a imaginação , a intuição, as emoções, a
capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou
do achado de sua razão de ser”.
***
O Dia do Curinga, do norueguês Jostein Gaarder |
Achei a
história bastante convincente, mas meu pai ainda não tinha terminado. Ele apontou,
então, para todos aqueles turistas que saíam aos montes dos ônibus estacionados
lá embaixo, perto da entrada, e subiam como formigas pelo terreno acidentado
onde estavam as ruínas do templo.
– Se no
meio de todas essas pessoas houver apenas uma que se
surpreenda com a vida a cada instante e tenha a sensação, toda vez que isso
acontece, de estar diante de algo fabuloso e enigmático…—Respirou
fundo e prosseguiu: — Você está vendo um monte de gente lá embaixo, não está,
Hans-Thomas? Pois bem… se apenas uma delas experimentar
a vida como uma aventura fantástica… e se
ele ou ela experimentar essa sensaçãotodos
os dias…
– Sim? —
perguntei ansioso, pois pela segunda vez ele não tinha completado o que queria
dizer.
– Ele ou ela será um curinga no baralho.”
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