terça-feira, 6 de novembro de 2012

Novas formas de se ensinar matemática: como criar um ambiente de aprendizagem bom para todos?

Pesquisadora e Professora de Matemática de Stanford diz que métodos tradicionais de se ensinar matemática, além de menos eficientes, podem ampliar desigualdades de gênero

A Professora de Matemática Jo Boaler, da Escola de Educação da Universidade de Stanford, apontou para uma questão bastante problemática: apesar de, atualmente, atingirem níveis de escolaridade semelhantes aos dos garotos nos Estados Unidos, as garotas abandonam a matemática assim que conseguem. E assim, meninas tendem a não escolher cursos e carreiras que incluem o estudo intensivo da matemática.
Ainda que Jo Boaler não estivesse falando especificamente do Brasil, basta olhar para a desproporção entre homens e mulheres em cursos como física e engenharia para perceber que esse fenômeno não é estranho por aqui.
Para a Professora, a transformação desse quadro é perfeitamente possível e depende da mudança da forma como a matemática é ensinada dentro de sala de aula.

 Não é uma questão de biologia: é possível mudar!

Explicações biológicas que tentam justificar a desigualdade no desempenho em matemática a  partir de diferenças genéticas entre meninos e meninas devem ser descartadas. Isso porque o entendimento equivocado de que meninos têm, biologicamente, reciocínio lógico mais apurado leva a uma conclusão também equivocada: a de que nada se pode fazer para transformar um quadro de inequidade.
Para perceber o equívoco, basta ver que a desigualdade de gênero neste aspecto específico do desempenho em matemática regrediu substancialmente, ainda que insuficientemente, no último século, com as transformações culturais que alteraram o papel da mulher na sociedade. Além disso, pesquisas mostram que em alguns países da Europa homens e mulheres têm desempenho equivalente em matemática. De modo que a desigualdade com a qual convivemos hoje em alguns países se trata de uma questão cultural – para Jo Boaler mais precisamente do ambiente de aprendizagem. E ambientes de aprendizagem nós podemos transformar!

Ambientes de aprendizagem melhores para todos

Muitos estudiosos da educação ao redor do mundo já entenderam que muito mais do que de diferenças genéticas, o problema das garotas com a matemática vem do ambiente de aprendizagem, da forma como o estudo dessas garotas é tratado por pais, professores, diretores e seus pares.
E a Professora de Matemática Jo Boaler decidiu investigar: fez um estudo comparativo entre duas escolas inglesas com variáveis muito semelhantes, mas com uma diferença substancial: enquanto em uma os meninos tinham melhor desempenho na matemática em relação às meninas, na outra o desempenho de meninas e meninos era equilibrado.
A diferença identificada: enquanto na escola mais desigual a matemática era ensinada de forma tradicional, com problemas de uma única resposta, fórmulas e procedimentos a serem decorados e problemas distantes da realidade, na escola mais equânime, os alunos aprendiam matemática de maneira colaborativa, trabalhando com seus colegas para a solução de questões complexas, multidimensionais, com múltiplas respostas possíveis. Nesta última escola, aliás, o desempenho dos meninos era melhor com relação ao desempenho dos meninos da escola mais desigual.
Ou seja, uma forma mais inovadora de se ensinar matemática se provou tanto melhor para todos quanto menos desigual com relação ao desempenho de meninas e meninos.

 

Resistência em mudar para melhor

Segundo a Professora de Stanford, diferentemente de outras matérias, a maneira como tradicionalmente se ensina matemática é muito diferente da forma como as pesquisas têm reiteradamente demonstrado ser mais eficiente para essa finalidade. No entanto, há uma tremenda resistência por parte de pais, professores e diretores com relação a inovações na maneira de se ensinar matemática.
A Professora suspeita que parte dessa resistência ocorra por conta de uma crença na matemática como um ritual de passagem, cujo sacrifício seria capaz de desenvolver o caráter e a perseverança nas crianças e jovens. Algo por que os adultos tiveram de passar e que, por isso, acreditam que as crianças devam passar também. Ainda que os mais diversos estudos apontem para a eficiência de novidades.
Assim, o objetivo da Professora ao tratar das desigualdades de gênero no ensino tradicional da matéria foi deslocar as atenções – e a culpa – das dificuldades em se aprender matemática de um suposto problema natural às meninas para o diálogo sobre como podemos construir um ambiente de aprendizagem melhor para todos.

 Dica da Professora

Por fim, Jo Boaler deixa uma dica para aqueles jovens que ainda não podem estudar em um ambiente inovador e igualitário de aprendizagem: entendam que ser bom em matemática é uma conquista, algo que se pode buscar e conseguir. Não acreditem que matemática é um dom.
 

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