Pesquisadora e Professora de Matemática de Stanford diz que métodos tradicionais de se ensinar matemática, além de menos eficientes, podem ampliar desigualdades de gênero
A Professora de Matemática Jo Boaler, da Escola
de Educação da Universidade de Stanford, apontou para uma questão bastante
problemática: apesar de, atualmente, atingirem níveis de escolaridade
semelhantes aos dos garotos nos Estados Unidos, as garotas abandonam a
matemática assim que conseguem. E assim, meninas tendem a não escolher cursos e
carreiras que incluem o estudo intensivo da matemática.
Ainda que Jo Boaler não estivesse falando especificamente do Brasil, basta olhar para a desproporção entre
homens e mulheres em cursos como física e engenharia para perceber que esse
fenômeno não é estranho por aqui.
Para a Professora, a transformação desse quadro é perfeitamente possível e depende da mudança da forma como a matemática é ensinada dentro de sala de aula.
Não é uma questão de biologia: é possível mudar!
Explicações biológicas que tentam justificar a
desigualdade no desempenho em matemática a partir de diferenças genéticas
entre meninos e meninas devem ser descartadas. Isso porque o entendimento equivocado de que meninos têm,
biologicamente, reciocínio lógico mais apurado leva a uma conclusão
também equivocada: a de que nada se pode fazer para transformar um quadro de
inequidade.
Para perceber o equívoco, basta ver que a
desigualdade de gênero neste aspecto específico do desempenho em matemática regrediu substancialmente, ainda que insuficientemente, no
último século, com as transformações culturais que alteraram o papel da mulher
na sociedade. Além disso, pesquisas
mostram que em alguns países da Europa homens e mulheres têm desempenho
equivalente em matemática. De modo que a desigualdade com a qual convivemos
hoje em alguns países se trata de uma questão cultural – para Jo Boaler mais
precisamente do ambiente de aprendizagem. E ambientes de aprendizagem
nós podemos transformar!
Ambientes de aprendizagem melhores para todos
Muitos estudiosos da educação ao redor do mundo
já entenderam que muito mais do que de diferenças genéticas, o problema das
garotas com a matemática vem do ambiente de aprendizagem, da forma como o
estudo dessas garotas é tratado por pais, professores, diretores e seus pares.
E a Professora de Matemática Jo Boaler decidiu
investigar: fez um estudo comparativo entre duas escolas inglesas com
variáveis muito semelhantes, mas com uma
diferença substancial: enquanto em uma os meninos tinham melhor desempenho na
matemática em relação às meninas, na outra o desempenho de meninas e meninos
era equilibrado.
A diferença identificada: enquanto na escola
mais desigual a matemática era ensinada de forma tradicional, com problemas
de uma única resposta, fórmulas e procedimentos a serem decorados e problemas
distantes da realidade, na escola mais equânime, os alunos aprendiam
matemática de maneira colaborativa, trabalhando com seus colegas para a solução
de questões complexas, multidimensionais, com múltiplas respostas possíveis.
Nesta última escola, aliás, o desempenho dos meninos era melhor com relação ao
desempenho dos meninos da escola mais desigual.
Ou seja, uma forma mais inovadora de se
ensinar matemática se provou tanto melhor para todos quanto menos desigual com relação ao desempenho de meninas e meninos.
Resistência em mudar para melhor
Segundo a Professora de Stanford, diferentemente de
outras matérias, a maneira como tradicionalmente se ensina matemática é muito
diferente da forma como as pesquisas têm reiteradamente demonstrado ser mais
eficiente para essa finalidade. No entanto, há uma tremenda resistência por parte
de pais, professores e diretores com relação a inovações na maneira de se ensinar matemática.
A Professora suspeita que parte dessa resistência ocorra por conta de uma crença na matemática como
um ritual de passagem, cujo sacrifício seria capaz de desenvolver o
caráter e a perseverança nas crianças e jovens. Algo por que os adultos tiveram de passar e que, por isso, acreditam que as crianças devam passar também. Ainda que os mais diversos estudos apontem para a eficiência de novidades.
Assim, o objetivo da Professora ao tratar das
desigualdades de gênero no ensino tradicional da matéria foi deslocar as atenções – e
a culpa – das dificuldades em se aprender matemática de um suposto problema natural às meninas para o diálogo sobre como podemos construir um ambiente de aprendizagem
melhor para todos.
Dica da Professora
Por fim, Jo Boaler deixa uma dica para
aqueles jovens que ainda não podem estudar em um ambiente inovador e igualitário
de aprendizagem: entendam que ser bom em matemática é uma conquista, algo que se
pode buscar e conseguir. Não acreditem que matemática é um dom.
Fonte:
Stanford's School of Education, http://gender.stanford.edu/news/2012/sugar-and-spice-and%E2%80%A6-math-under-achievement
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