Começou com uma mãe lembrando do laboratório de ciências que tinha na Escola Daniel Verano na época em que estudava no mesmo colégio de seu filho. Aos poucos, outros familiares também foram puxando da memória todas as lembranças que tinham daquele colégio em que estavam, agora como pai, tio, avó. Eram lembranças que aos poucos mostravam o quanto aquele colégio fez parte de suas historias e, hoje, era responsável pela formação de suas crianças.
É esse vínculo entre familiares e escola que o Crea+ Família busca
reatar. Com diálogo aberto a todos os pais, aos poucos temos refletido juntos
sobre novas formas de desenvolvimento e participação na educação das crianças,
cientes de que essa responsabilidade não é somente da escola, mas da família e da
sociedade em conjunto.
A educação de jovens e crianças transcende os muros da escola. Quando aprendemos
a somar coisas e dividi-las, a escrever um texto ou quando lemos algo sobre a nossa
história, aprendemos algo sobre o mundo, nos sentimos parte dele porque o
conhecemos um pouco melhor, podemos brincar com seus atributos e transformá-los.
A educação nos faz perceber que nós somos donos das coisas, do mundo e da
nossa história, não o contrário. Não há educação que não nos torne mais livres, mais
conscientes e mais capazes de escolher nossos próprios caminhos.
E a escola
pública é parte do mundo! Nós, do Crea+, nos sentimos responsáveis por ela,
queremos conhece-la e participar de sua transformação. E sabemos que alunos, pais
e toda a comunidade também são responsáveis, não somente pela escola, mas pela
nossa capacidade de educar nossos cidadãos em sentido amplo.
Para os
pais, ou para aqueles que fazem as suas vezes, participar da educação de um
filho é participar das tomadas de decisão dentro da escola, participar do
processo de aprendizagem, questionar filho e comunidade escolar acerca de seus
avanços e escolhas, e também permitir que a aplicação dos conteúdos e valores
aprendidos altere a ordem das coisas e transgrida velhas regras, seja dentro de
sua casa, de sua comunidade ou de sua família. É conviver e trocar
experiências, valores e carinhos.
Os pais são o elo fundamental entre o mundo de dentro e o mundo de fora da escola. Sem sua participação, nossa educação encontra dificuldades de dialogar com o mundo, o que é uma contradição essencial. Os alunos se sentem desamparados em seu processo educativo, seja porque sua realidade fora da escola não é respeitada dentro dela, seja porque suas novas descobertas na escola são reprimidas para além de seus muros.
Os pais são o elo fundamental entre o mundo de dentro e o mundo de fora da escola. Sem sua participação, nossa educação encontra dificuldades de dialogar com o mundo, o que é uma contradição essencial. Os alunos se sentem desamparados em seu processo educativo, seja porque sua realidade fora da escola não é respeitada dentro dela, seja porque suas novas descobertas na escola são reprimidas para além de seus muros.
É preciso que os pais exerçam sua liberdade e autonomia no acompanhamento da vida escolar de seus filhos para que esses possam experimentar uma educação capaz de lhes dar maior liberdade e autonomia.
Quando pensamos nisso, e pensamos que somos todos responsáveis pela educação de nossas crianças e adolescentes, algumas questões se impõem: como despertar o sentimento de responsabilidade e fazer com que pais se envolvam na educação de seus filhos? Como nós podemos colaborar para que esses pais consigam conciliar essa participação com as exigências do trabalho, da casa e outras obrigações do dia-a-dia?
Leis , ações comunitárias e atidudes individuais, o debate tem crescido. E, para quem quer conhecer algumas alternativas viáveis, sugerimos a leitura da reportagem publicada no Estado de Minas que reproduzimos a seguir.
Fonte: O
Estado de Minas em 04.11.2012
Os pais saem cedo para trabalhar, almoçam fora, voltam no início da
noite e só aí se encontram com os filhos, mas o dia já está acabando. E a
reunião da escola, o dever de casa? Acabam espremidos entre tantos compromissos
ou ficam para depois. Mas há um movimento tentando estreitar os laços entre
filhos e pais, famílias e escolas. Os encontros não
são mais nos horários de aula, escolas criam alternativas e até projetos
de lei estão em andamento para obrigar a visita constante do responsável ao
colégio, sob pena de multa.
Um dos projetos em tramitação é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
Polêmico, o texto prevê que o pai, mãe ou responsável que não for à escola pelo
menos uma vez a cada bimestre seja multado no valor semelhante ao cobrado de
quem não vota e não justifica: cerca de R$ 3. ”Não existe educação se não
houver o casamento entre professor e pai, escola e família e não tem como fazer
isso se os pais não comparecem. Como no Brasil não há essa tradição e as
pessoas tratam a escola como depósito de crianças, a lei pretende mudar essa
cultura”, afirmou o senador. E não há como justificar a falta, como nas
eleições. “Pode ir pai, mãe, irmão mais velho, avó, avô, qualquer pessoa da
família. Se não tiver ninguém quer dizer que essa criança é abandonada”, disse.
Segundo ele, a estimativa brasileira é de que apenas 20% dos pais comparecem às
reuniões.
E se a dificuldade é sair do trabalho para ir ao encontro escolar, a
senadora Lídice da Mata (PSB-BA) propõe em outro projeto que o dia seja
abonado, sem prejuízo do salário. A proposta prevê uma falta por semestre e o
trabalhador terá de comprovar o comparecimento. “A intenção é facilitar aos pais
o acompanhamento mais de perto na educação dos filhos e permitir um melhor
rendimento escolar”, afirmou a senadora.
Uma pesquisa do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e
Pesquisa (Insper), com base em dados do Sistema de Avaliação do
Ensino Básico (Saeb), mostra que alunos acompanhados pelos pais, que leem
livros ou jornais e têm mais de 20 publicações em casa, um ambiente propício à
educação, apresentam um desempenho melhor na escola.
Alternativa - A engenheira civil Janaína Soraia de Sá Machado, de 39 anos, não quer
ser enquadrada em nenhuma lei. Ciente da importância de estar de olho nos
filhos em tempo integral, ela se desdobra para acompanhá-los. Morando na
Pampulha e trabalhando em Betim, na Grande BH, ela sai de casa cedo, mas faz
questão de deixar na escola os filhos João Vitor, de 11, e Gabriel, de 7.
Buscar não tem jeito, eles voltam no transporte escolar, mas ela usa, além do
celular, o skype para conversar durante o horário de almoço e ajudar em algum
dever. Ela volta para casa às 19h, às vezes um pouco mais tarde. “Chegar em
casa à noite e ainda ajudar no dever para casa é muito penoso. Estamos todos
cansados, não é produtivo.”
Divorciada, ela já testou alternativas: empregada qualificada para
ajudá-los e professor particular. Mas hoje está sozinha para cumprir as
obrigações e acha confuso. “Converso na hora do almoço, vejo o que têm para
fazer e vou orientando durante o dia. Sinto muita falta de fazer mais parte da
vida escolar deles.” Na quarta-feira, Janaína passou a manhã em reunião na
escola. “Faço questão de ir a todos os encontros e de vez em quando vou lá
conversar com a professora”, diz.
Mudança - Para Luciana Maria Caetano, mestre e doutora em psicologia escolar pela Universidade
de São Paulo e professora na Universidade
Estadual de Maringá, até algumas décadas atrás sequer se ouvia falar em relação
escola/família. “No máximo, os boletins eram encaminhados para a casa e os pais
o assinavam”, lembra. Autora de livros como Dinâmicas para reuniões de pais e É
possível educar sem palmadas?, Luciana diz que é desejável e saudável que
família e escola dialoguem no sentido de conseguir juntas oferecer às crianças
as melhores oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem.
“Pesquisas mostram que com interesse pelo que a criança faz na escola
ela se sente mais motivada, amparada pela família e tem um desempenho escolar
melhor. Além disso, a família está demonstrando o valor que a escola tem. Se os
pais se preocupam em ir às reuniões, ver as notas, lições, estão dizendo por
meio de atitudes coerentes que estudar é importante”, afirmou.
Segundo a especialista, obrigar sob pena de multa que os pais compareçam
à escola dá a ideia de que as crianças estão abandonadas e a família é
negligente, mas na verdade existem entraves para estreitar essa relação. “A
família é chamada na escola para que seja dito que a criança está com problema,
os encontros entre pais e professores não têm um formato atrativo, agradável,
acolhedor. E o que ocorre é uma culpabilização recíproca, ou seja, há uma
inversão de papéis. A família faz exigências equivocadas em relação à escola e
a escola também exige o que não é papel dos pais”, analisou.
Para ela, o primeiro passo tem que ser dado pela instituição de ensino.
“Lá estão os profissionais da educação, especialistas. Pai e mãe não são
especialistas em educação, a maioria pouco sabe do desenvolvimento dos filhos,
as fases, como de fato fazer boas intervenções com a criança, acabam agindo
intuitivamente.”
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