quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A família e todos nós por uma escola melhor




Começou com uma mãe lembrando do laboratório de ciências que tinha na Escola Daniel Verano na época em que estudava no mesmo colégio de seu filho. Aos poucos, outros familiares também foram puxando da memória todas as lembranças que tinham daquele colégio em que estavam, agora como pai, tio, avó. Eram lembranças que aos poucos mostravam o quanto aquele colégio fez parte de suas historias e, hoje, era responsável pela formação de suas crianças.
É esse vínculo entre familiares e escola que o Crea+ Família busca reatar. Com diálogo aberto a todos os pais, aos poucos temos refletido juntos sobre novas formas de desenvolvimento e participação na educação das crianças, cientes de que essa responsabilidade não é somente da escola, mas da família e da sociedade em conjunto.
A educação de jovens e crianças transcende os muros da escola. Quando aprendemos a somar coisas e dividi-las, a escrever um texto ou quando lemos algo sobre a nossa história, aprendemos algo sobre o mundo, nos sentimos parte dele porque o conhecemos um pouco melhor, podemos brincar com seus atributos e transformá-los. A educação nos faz perceber que nós somos donos das coisas, do mundo e da nossa história, não o contrário. Não há educação que não nos torne mais livres, mais conscientes e mais capazes de escolher nossos próprios caminhos.
E a escola pública é parte do mundo! Nós, do Crea+, nos sentimos responsáveis por ela, queremos conhece-la e participar de sua transformação. E sabemos que alunos, pais e toda a comunidade também são responsáveis, não somente pela escola, mas pela nossa capacidade de educar nossos cidadãos em sentido amplo.
Para os pais, ou para aqueles que fazem as suas vezes, participar da educação de um filho é participar das tomadas de decisão dentro da escola, participar do processo de aprendizagem, questionar filho e comunidade escolar acerca de seus avanços e escolhas, e também permitir que a aplicação dos conteúdos e valores aprendidos altere a ordem das coisas e transgrida velhas regras, seja dentro de sua casa, de sua comunidade ou de sua família. É conviver e trocar experiências, valores e carinhos.

Os pais são o elo fundamental entre o mundo de dentro e o mundo de fora da escola. Sem sua participação, nossa educação encontra dificuldades de dialogar com o mundo, o que é uma contradição essencial. Os alunos se sentem desamparados em seu processo educativo, seja porque sua realidade fora da escola não é respeitada dentro dela, seja porque suas novas descobertas na escola são reprimidas para além de seus muros.

É preciso que os pais exerçam sua liberdade e autonomia no acompanhamento da vida escolar de seus filhos para que esses possam experimentar uma educação capaz de lhes dar maior liberdade e autonomia.

Quando pensamos nisso, e pensamos que somos todos responsáveis pela educação de nossas crianças e adolescentes, algumas questões se impõem: como despertar o sentimento de responsabilidade e fazer com que pais se envolvam na educação de seus filhos? Como nós podemos colaborar para que esses pais consigam conciliar essa participação com as exigências do trabalho, da casa e outras obrigações do dia-a-dia?

Leis , ações comunitárias e atidudes individuais, o debate tem crescido. E, para quem quer conhecer algumas alternativas viáveis, sugerimos a leitura da reportagem publicada no Estado de Minas que reproduzimos a seguir.

 
 

                   Fonte: O Estado de Minas em 04.11.2012


Os pais saem cedo para trabalhar, almoçam fora, voltam no início da noite e só aí se encontram com os filhos, mas o dia já está acabando. E a reunião da escola, o dever de casa? Acabam espremidos entre tantos compromissos ou ficam para depois. Mas há um movimento tentando estreitar os laços entre filhos e pais, famílias e escolas. Os encontros não são mais nos horários de aula, escolas criam alternativas e até projetos de lei estão em andamento para obrigar a visita constante do responsável ao colégio, sob pena de multa.

Um dos projetos em tramitação é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Polêmico, o texto prevê que o pai, mãe ou responsável que não for à escola pelo menos uma vez a cada bimestre seja multado no valor semelhante ao cobrado de quem não vota e não justifica: cerca de R$ 3. ”Não existe educação se não houver o casamento entre professor e pai, escola e família e não tem como fazer isso se os pais não comparecem. Como no Brasil não há essa tradição e as pessoas tratam a escola como depósito de crianças, a lei pretende mudar essa cultura”, afirmou o senador. E não há como justificar a falta, como nas eleições. “Pode ir pai, mãe, irmão mais velho, avó, avô, qualquer pessoa da família. Se não tiver ninguém quer dizer que essa criança é abandonada”, disse. Segundo ele, a estimativa brasileira é de que apenas 20% dos pais comparecem às reuniões.

E se a dificuldade é sair do trabalho para ir ao encontro escolar, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) propõe em outro projeto que o dia seja abonado, sem prejuízo do salário. A proposta prevê uma falta por semestre e o trabalhador terá de comprovar o comparecimento. “A intenção é facilitar aos pais o acompanhamento mais de perto na educação dos filhos e permitir um melhor rendimento escolar”, afirmou a senadora.

Uma pesquisa do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), com base em dados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), mostra que alunos acompanhados pelos pais, que leem livros ou jornais e têm mais de 20 publicações em casa, um ambiente propício à educação, apresentam um desempenho melhor na escola.

Alternativa - A engenheira civil Janaína Soraia de Sá Machado, de 39 anos, não quer ser enquadrada em nenhuma lei. Ciente da importância de estar de olho nos filhos em tempo integral, ela se desdobra para acompanhá-los. Morando na Pampulha e trabalhando em Betim, na Grande BH, ela sai de casa cedo, mas faz questão de deixar na escola os filhos João Vitor, de 11, e Gabriel, de 7. Buscar não tem jeito, eles voltam no transporte escolar, mas ela usa, além do celular, o skype para conversar durante o horário de almoço e ajudar em algum dever. Ela volta para casa às 19h, às vezes um pouco mais tarde. “Chegar em casa à noite e ainda ajudar no dever para casa é muito penoso. Estamos todos cansados, não é produtivo.”

Divorciada, ela já testou alternativas: empregada qualificada para ajudá-los e professor particular. Mas hoje está sozinha para cumprir as obrigações e acha confuso. “Converso na hora do almoço, vejo o que têm para fazer e vou orientando durante o dia. Sinto muita falta de fazer mais parte da vida escolar deles.” Na quarta-feira, Janaína passou a manhã em reunião na escola. “Faço questão de ir a todos os encontros e de vez em quando vou lá conversar com a professora”, diz.

Mudança - Para Luciana Maria Caetano, mestre e doutora em psicologia escolar pela Universidade de São Paulo e professora na Universidade Estadual de Maringá, até algumas décadas atrás sequer se ouvia falar em relação escola/família. “No máximo, os boletins eram encaminhados para a casa e os pais o assinavam”, lembra. Autora de livros como Dinâmicas para reuniões de pais e É possível educar sem palmadas?, Luciana diz que é desejável e saudável que família e escola dialoguem no sentido de conseguir juntas oferecer às crianças as melhores oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem.

“Pesquisas mostram que com interesse pelo que a criança faz na escola ela se sente mais motivada, amparada pela família e tem um desempenho escolar melhor. Além disso, a família está demonstrando o valor que a escola tem. Se os pais se preocupam em ir às reuniões, ver as notas, lições, estão dizendo por meio de atitudes coerentes que estudar é importante”, afirmou.

Segundo a especialista, obrigar sob pena de multa que os pais compareçam à escola dá a ideia de que as crianças estão abandonadas e a família é negligente, mas na verdade existem entraves para estreitar essa relação. “A família é chamada na escola para que seja dito que a criança está com problema, os encontros entre pais e professores não têm um formato atrativo, agradável, acolhedor. E o que ocorre é uma culpabilização recíproca, ou seja, há uma inversão de papéis. A família faz exigências equivocadas em relação à escola e a escola também exige o que não é papel dos pais”, analisou.

Para ela, o primeiro passo tem que ser dado pela instituição de ensino. “Lá estão os profissionais da educação, especialistas. Pai e mãe não são especialistas em educação, a maioria pouco sabe do desenvolvimento dos filhos, as fases, como de fato fazer boas intervenções com a criança, acabam agindo intuitivamente.”

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