quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Por que sou voluntário


Acho que toda criança passou por aquela fase em que um determinado programa (ida a uma lanchonete ou a um parque de diversões) era O acontecimento mais aguardado da semana.

Lembro até hoje das vezes que minha mãe me levava ao McDonalds quanto eu tinha 7, 8 anos. Era muito bacana! Havia também uma sorveteria em Brasília (Palato!) que eu adorava ir. Não era só pelo prazer da gula, mas esses lugares tinham parquinhos/brinquedos que eu adorava brincar, correr, suar; me esbaldar. Típico programa para crianças.

Era muito comum, também, que nesses lugares houvesse alguma concentração de meninos de rua. Às vezes eles vinham até as mesas pedir esmola; às vezes apenas observavam de longe. Fato é que aquilo me dava uma sensação tão desconfortável que eu mal sei descrever. Era como se o esôfago ficasse estreito, o estômago desse um nó; a comida descia empurrada, perdia o apetite. O prazer ia embora num estalar de dedos. Me doía ver aquela cena, crianças iguais a mim que não podiam desfrutar de um momento como aquele; um simples lanche ou sorvete.

Nunca me esquecerei.

Bem mais adiante, quando estava no 3º Ano do Ensino Médio, numa aula de Português/Redação, o professor interrompeu a aula e começou a contar uma história.

Era o segundo semestre daquele ano, talvez setembro ou outrubro, o pessoal já cansado da rotina de estudos conversava muito em sala. Sem conseguir desempenhar seu melhor papel o professor parou por um momento, conseguiu a atenção de todos e começou a resenha.

Contou a história de um garoto que acordava muito cedo (ie, 3-4 da manhã) para ajudar o pai a carregar o caminhão para ir à feira. Cada dia uma feira diferente, todos os dias. Marmita na mochila, seu lugar de estudar era debaixo das bancas de frutas, depois que tudo estivesse descarregado e montado. Por ter que trabalhar durante o dia, estudava a noite. Os horários não coincidiam então, por vezes, o garoto chegava e o portão da escola já estava fechado.

Enquanto muitos alunos pulavam o muro da escola para “matar” aula, ele pulava o muro para poder assistir às aulas. Cansado do dia intenso de trabalho, travava uma batalha com o sono.

Mas tudo aquilo valera a pena, por que aquele garoto tinha completado os estudos, feito faculdade e agora lecionava em um dos melhores colégios de Brasília. Era ele próprio o personagem da narrativa!

Terminou dizendo que não acreditava que devêssemos deixar o mundo perfeito, isso era utópico; mas sem dúvida deveríamos deixar o mundo um pouco melhor do que encontramos.

Eu realmente não sei dizer porque sou voluntário. Espero não ter decepcionado o raro leitor, mas é a mais pura verdade; não sei.

Encerro com um diálogo recente com um grande amigo, que talvez ajude a elucidar o mote desse texto:
Interlocutor: Cara, qual seu objetivo de vida?
Autor: I really dont know at this point. Mas diria que é fazer o máximo, o diferente, o que ninguém faz, da melhor maneira possível.
Interlocutor: Mas qualquer coisa que seja?
Autor: Yeap! Já dizia Senna; “no que diz respeito a empenho e dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.”


Depoimento de um membro do Crea+, que prefere manter o anonimato.

3 comentários:

  1. Muito bom o texto! Me lembrou uma das frases mais famosas de Gandhi e que talvez ajude na resposta a essa pergunta: "Seja a mudança que quer ver no mundo"...É isso, a mudança parte de nós! Isso é ser voluntário!

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  2. Não é preciso ser voluntário para se identificar com o texto. Mais do que se preocupar com o próximo, trata-se de pensar no futuro.
    Se a todos o futuro pode preocupar, qualquer um pode ser voluntário.

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  3. Belo texto.
    A mudança deve acontecer primeiro em você, pois é por meio de pequenas atitudes que grandes mudanças acontecem.

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